terça-feira, 13 de março de 2012

PATOLOGIA/CITOLOGIA

PROCESSO INFLAMATÓRIO AGUDO E CRÔNICO


1. Características gerais da inflamação: 

- "Reação complexa do tecido conjuntivo vascularizado". 

- "Reação dos vasos sangüíneos levando ao acúmulo de líquido e leucócitos nos estudos extravasculares". 

- O objetivo da resposta é a destruição do agente lesivo e conseqüentemente a cicatrização. 

- A inflamação // reparação são potencialmente lesivas - proliferação de fibroblastos com alteração da característica tecidual normal. 

- A inflamação aguda tem duração rápida (minutos // horas // poucos dias). O exsudato (edema) inflamatório é bastante rico em neutrófilos. 

- A inflamação crônica é mais longa marcada por linfócitos e macrófagos; fibrose; angiogênese e necrose. 

- Observação: mediadores químicos amplificam a resposta inflamatória. 

a) Inflamação Aguda: 

- Mobilização imediata de leucócitos e anticorpos.
    - Vasodilatação (eritema + rubor);
    - Exsudato (edema);
    - Emigração de leucócito para a lesão. 

Obs. PUS = exsudato inflamatório contendo leucócitos e células teciduais. 



• Vasodilatação seguida de diminuição da viscosidade da circulação local com exsudação e estase - migração de leucócitos (rolagem). 

• Os mecanismos que tornam o endotélio permeável durante a inflamação (figura 1): 

    • Lacunas por contração endotelial; 

    • Lacunas por reorganização citoesquelética; 

    • Lesão direta; 

    • Lesão dependente de leucócitos (resposta tardia); 

    • Aumento da transmigração (VEGF ??). 

- Queimaduras técnicas causam perda hídrica importante devido à contração endotelial. 

Migração Celular - 

- Marginação // Rolagem // Aderência.
- Transmigração por diapedese.
- Quimiotaxia. 

* Adesão Celular:
    - Ocorre devido a selectinas, imunoglobulinas, integrinas e glicoproteínas semelhantes à mucina. 

* Ativação dos Leucócitos: 
    - Produção de metabólitos do ácido araquidônico a partir de fosfolipídeos, ativação de fosfolipase A2 pelo DAG (diacilglicerol) - ativando a proteína quinase C (PKC) - e pelo influxo de cálcio. 

* Mediadores químicos da inflamação:
- Fontes celulares dos mediadores químicos: plaquetas, neutrófilos, monócitos // macrófagos, mastócitos.
    - Podem induzir o endotélio, músculo liso e fibroblastos.
- Atuam em células alvo amplificando a resposta.
- A maioria dos mediadores possuem vida curta. 









Figura 1. Aumento da permeabilidade vascular.

a) Aminas vasoativas: Histamina 

- Histamina: amplamente distribuída pelos tecidos; produzidas pelos mastócitos (também por basófilos e plaquetas). 

- Liberada em lesões físicas (trauma, frio, calor). 

- Reações imunológicas (ligação anticorpos-mastócitos). 

- Anafilaxia estimulada pelo sistema complemento (C3a e C5a). 

- Citocinas. 

- Neuropeptídeos (substância P). 

- A histamina causa vasodilatação das arteríolas e aumento da permeabilidade vascular das vênulas. 

b) Serotonina (5-HT) - 5 hidróxi-triptamina: 

- Segundo mediador vasoativo semelhante à histamina. 

- Produzida e liberada por plaquetas. 



c) Proteases plasmáticas: 

- Sistema Complemento (anafilaxia por C3a, C5a). 

- Sistema de Cinina (bradicinina). 

- Sistema de Coagulação. 

d) Metabólitos do Ácido Araquidônico (AA): 

- Prostaglandinas, Prostaciclina, Lipoxinas e Leucotrienos. 

- São autacóides ou hormônios locais de curto alcance. 

- Decompõem-se espontaneamente ou por enzimas. 

- O ácido araquidônico é um ácido graxo poliinsaturado de 20 carbonos (5,8,11,14 ácido eicosatetraenóico) - derivado da alimentação ou por conversão do ácido graxo essencial, o ácido linolêico (Figura 1.1). 



Figura 1.1. Esquema bioquímico da enzima ciclooxigenase (COX) tipo 1 e tipo 2. 

- O ácido araquidônico sofre ação de duas enzimas essenciais: ciclooxigenase (formação das prostaglandinas e tromboxanos) e lipoxigenase (formação dos leucotrienos e lipoxinas). 

- Síntese aumentada na inflamação. 

- Estimulado pelo fator de agregação plaquetária (PAF) - atuam na síntese do ácido araquidônico juntamente com a fosfolipase A2. 

- A ciclooxigenase bem como a lipoxigenase geram compostos classificados por letras: PGD, PGE, PGF, PGG, PGH, PGI e PGJ; além de serem atribuídos números que representam as ligações duplas presentes no composto. 

- Participações enzimáticas: 

    - TXA2 (instável) -------------------- TXB2 (inativo). Essa transformação é rapidamente efetuada na participação da enzima tromboxano sintetase (de origem plaquetária). 
    - PGI2 ------------------------- PGF1a (composto estável). A transformação é efetuada pela enzima prostaciclina sintetase (de origem endotelial). 
    - PGE2, PGD2, PGF2a são produtos da ciclooxigenase (COX). Estes compostos coletivamente denominados prostaglandinas geram vasodilatação, febre, dor e edema. 
    - A lipooxigenase (LO) é predominante nos neutrófilos interage com a proteína ativadora da 5-LO denominada FLAP formando o complexo ativo 5-HETE responsável pela quimiotaxia dirigida à neutrófilos formando um grupo de compostos denominados leucotrienos. 
        - LTB4 - responsável pela quimiotaxia.
        - LTC4, LTD4, LTE4. - responsáveis pela vasoconstrição, broncoespasmo e aumento da permeabilidade capilar/vascular (Figura 2). 



Figura 2. A figura exemplifica a alteração do calibre vascular durante o processo inflamatório pela participação de diversas substâncias químicas. 

Obs. As interações celulares devem sempre ser considerada na síntese destes compostos, há uma participação de mais de um tipo celular para produção dos produtos bioquímicos envolvidos na inflamação. 

* Lipoxinas - 
    - São produtos do ácido araquidônico.
    - Formadas na interação entre diversos tipos celulares: plaquetas-leucócitos. 
    - São classificadas em 2 tipos: LXA4 e LXB4. 
    - Sintetizadas na presença da enzima 12-lipoxigenase.
    - São pró-inflamatórias bem como antiinflamatórias dependendo dos sinalizadores e contextos fisiopatológicos. 
    - Exercem diminuição na quimioatração dos neutrófilos mas aumento na aderência dos monócitos para mais tarde, transformarem-se em macrófagos (tecido). 
    - LXA4 exerce um efeito vasodilatador balanceando-o com o efeito vasoconstritor do LTC4. 

* Fator Ativador Plaquetário (PAF) - 

    - Derivado do fosfolipídeo acetil-gliceril-éter-fosforilcolina (AGEPEC).
    - Desencadeiam vasoconstrição e broncoconstrição.
    - Em pequena quantidade geram vasodilatação. 



* Citocinas - 
    - A interleucina (IL) 1, IL-6 bem como o fator de necrose tumoral alfa (a-TNF) induzem uma resposta inflamatória de fase aguda sistêmica associada a infecção ou lesão gerando febre, anorexia, sono de ondas lentas, aumento de ACTH e corticosteróides. 
    - O a-TNF exerce importante papel no controle da massa corporal normal. 

* Quimiocinas - 
    - São secretadas por macrófagos, células endoteliais e outros tipos celulares. 
    - As quimiocinas são classificadas em C-X-C ou a contendo resíduos de aminoácido separando os dois primeiros resíduos de cisteína conservados. As quimiocinas C-C ou ß exibem os dois primeiros resíduos de cisteína adjacentes conservados. Incluem a proteína quimioatratora de monócitos (MCP-1), eotaxina, proteína inflamatória de macrófagos-1a (MIP-1a) e RANTES. As quimiocinas C ou ? não possuem duas das quatro cisteínas conservadas (linfotactinas). As quimiocinas podem ser classificadas em CX3C (também denominada fractalcina). 
    - As quimiocinas são importantes para a manutenção do gradiente quimiotático necessário para o recrutamento de leucócitos que migram da circulação para o tecido. 
    - Estas substâncias atuam em receptores acoplados à proteína G em receptores CRCR ou CCR. 

Óxido Nítrico (NO) - 

    - Produzido pelo endotélio, macrófago e neurônios.
    - Causa vasodilatação. 
    - Possuem meia-vida curta, por isso, atuam localmente. 
    - Sintetizado a partir da L-arginina, oxigênio molecular, NADPH e co-fatores na presença da enzima NOS (Óxido Nítrico Sintetase). 
    - Há três tipos conhecidos de NOS:
        - Endotelial (eNOS)
        - Neuronal (nNOS)
        - Induzido por citocinas (iNOS) 

Resultados da Inflamação Aguda


    - Devemos sempre levar em conta a natureza e intensidade da lesão, o local e tecido acometido bem como a responsividade do hospedeiro. 



1. Resolução completa: resolução - o resultado habitual quando a lesão é limitada ou breve; ou quando há pouca destruição tecidual. 

2. Formação do abscesso: ocorre sobretudo quando há microorganismo piogênico. 

3. Substituição por tecido conjuntivo: fibrose - ocorre após a destruição tecidual significativa; quando a destruição envolve células que não se regeneram ou quando há exsudação de fibrina abundante. 

4. Progressão da resposta para a inflamação crônica: a transformação ocorre quando o processo agudo não consegue resolver a lesão em decorrência da persistência do agente nocivo. 

Inflamação Crônica


    - Processo prolongado (semanas a meses) na qual a inflamação ativa, destruição tecidual e tentativas de reparação estão ocorrendo simultaneamente.     - Muitas vezes latentes, assintomáticas, são também responsáveis pelas doenças crônicas como artrite reumatóide, aterosclerose, tuberculose e doenças pulmonares crônicas.     - A inflamação crônica se origina de: 

1. Infecções persistentes: tuberculose, sífilis, alguns fungos. Estes agentes suscitam em hipersensibilidade tardia (possuem baixa toxicidade). 

2. Exposição prolongada a agentes tóxicos endógenos ou exógenos: sílica, material não-degradável provocando a silicose. 

3. Auto-imunidade: reações imunes atacam o próprio tecido sadio. Resulta em várias doenças inflamatórias crônicas (artrite reumatóide e lúpus eritematoso). 

- Características das Reações Crônicas: 

    a) Infiltrado de células mononucleares: macrófagos, linfócitos e plasmócitos. 

    b) Destruição tecidual: induzida por células inflamatórias. 

    c) Cicatrização por substituição do tecido danificado pelo tecido conjuntivo (fibroso). Observa-se angiogênese (Figura 3). 



Figura 3. Infiltrado inflamatório mostrando inflamação crônica em doença pulmonar. * indica o acúmulo de células inflamatórias crônicas; a cabeça das setas indica que a destruição do parênquima pulmonar esta substituído por epitélio cubóide; as setas indicam o processo de fibrose. 

Infiltração Mononuclear


    - O macrófago é a célula principal da inflamação crônica proveniente do monoblasto (medula óssea). Os macrófagos vivem nos tecidos por vários meses.     - O ?-INF mostra ser o agente que estimula a transformação no tecido dos monócitos em macrófagos. 

Outras Células Participantes da Inflamação Crônica


• Linfócitos: possuem relação recíproca com os macrófagos (Figura 4). 

• Mastócitos: amplamente presentes no tecido conjuntivo; expressam receptores que se ligam à porção Fc dos anticorpos IgE (FceRI). Nessa interação os mastócitos desgranulam e liberam mediadores com histamina e produtos do ácido araquidônico. 

• Eosinófilos: típicos das reações imunes mediadas por IgE e infecções parasitárias (helmintos). São quimioatraídos pela eotaxina (quimiocina C-C). 



Figura 4. Interação entre o macrófago e o linfócitos mediados por interferon gama. 

Inflamação Granulomatosa


    Trata-se de um padrão distinto de reação inflamatória crônica na qual o tipo celular predominante é o macrófago ativado com aparência de célula epitelial (epitelióide). Este tipo inflamatório é encontrado em doenças auto-imunes e infecciosas crônicas. 

    São exemplos: tuberculose, sarcoidose, doença da arranhadura de gato, linfogranuloma inguinal, lepra (hanseníase), brucelose, sífilis, infecções micóticas e beriliose. 

    O granuloma é uma área focal de inflamação granulomatosa - trata-se de macrófagos rodeados por leucócitos mononucleares. 

    Células gigantes podem ser formadas na junção de células epiteliais. Vinte ou mais núcleos celulares formam as células de Langhans (Figura 5). 



Figura 5. Granuloma tuberculoso típico com formação de células de Langhans. 

Quando a fagocitose é impedida devido ao tamanho do corpo estranho forma-se os denominados granulomas de corpo estranho - incapazes de produzir uma resposta imune ou inflamatória. Os granulomas imunes são causados por partículas insolúveis capazes de induzir uma resposta inflamatória. 

Vasos Linfáticos na Inflamação
    - Filtram os líquidos extravasculares. 

    - O fluxo aumenta na inflamação a fim de drenar o líquido extravascular. 

    - Os vasos linfáticos podem inflamar = linfangite. Já uma inflamação de linfonodos causa a chamada linfadenite inflamatória ou reativa. 

    - Após os linfonodos, o fígado, baço e medula óssea constituem a segunda linha de defesa - nesse caso teremos bacteremia (meningite, endocardite, abscessos renais e artrite séptica). 

Padrões Morfológicos na Inflamação Aguda e Crônica - (Figura 6) 

1. Inflamação serosa: extravasamento de líquido ralo proveniente do soro sangüíneo ou de secreções das células mesenquimais que revestem o pericárdio, pleura e peritônio. 

2. Inflamação fibrinosa: há aumento da permeabilidade vascular resultando num influxo de fibrina para o tecido. Podem ser removidos por fibrinólise ou por macrófagos. 

3. Inflamação supurativa ou purulenta: produção de grandes quantidades de pus por exsudato purulento causado por bactérias piogênicas. Os abscessos são coleções de tecido inflamatório purulento. 

4. Úlceras: resultam do defeito local ou escavação da superfície de um órgão ou tecido que se desprende do tecido inflamatório necrótico. Comum na boca, estômago, intestino ou trato genitourinário. 









Figura 6. Padrões histológicos da inflamação aguda. Em A vemos a inflamação serosa; em B uma inflamação fibrinosa onde F indica fibrina e P a superfície pericárdica; em C há uma inflamação supurativa (abscesso bacteriano no miocárdio); e em D uma ulceração (duodenal). 

Efeitos Sistêmicos da Inflamação


- A febre é o processo mais comum associado à infecção. 

- O processo de hipertermia é coordenado pelo hipotálamo envolvendo também o sistema endócrino - reação de fase aguda: 

1. Endócrino e metabólicos: secreção de proteína de fase aguda pelo fígado (proteína C reativa - PCR; proteína amilóide A sérica - SAA; proteína amilóide P sérica - SAP; fatores do sistema complemento e do sistema de coagulação). Há aumento da secreção de glicocorticóide e diminuição na liberação de ADH. 

2. Autonômico: redireciona o fluxo sangüíneo dos leitos cutâneos para os profundos; aumento da freqüência cardíaca e pressão arterial bem como redução da sudorese. 

3. Comportamentais: calafrios, tremores, anorexia e sonolência. 

- A elevação da temperatura esta associada ao aumento da atividade dos leucócitos dificultando a replicação de microorganismos. 

- A IL-1, IL-6, INF e a-TNF penetram o cérebro em locais onde conseguem ser transportados através de barreira hematoencefálica ou mesmo pelo nervo vago onde atuam sobre os vasos do encéfalo estimulando a produção de PGE, NO ou IL-1ß provocando febre. 

- Leucocitose: 15000-20000 células/mL podendo atingir até 100000 cél/mm. As elevações extremas podem nos indicar uma reação leucemóide. A maioria das infecções bacterianas causa neutrofilia mas devemos estar atentos para algumas exceções: caxumba, mononucleose infecciosa e rubéola causam linfocitose. A infecção por parasitas ou asma brônquica freqüentemente se apresenta por eosinofilia. Obs. As infecções de curta duração podem estar associadas a leucopenia como observamos na febre tifóide e em infecções virais causadas por riquétsias e também por certos protozoários.

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