quarta-feira, 14 de março de 2012

Fisiologia do Exercício Parte 4

 Ponto de Vista 
Força: Mulher x Homem



 

 Introdução 

A diversidade entre os seres humanos sempre foi alvo de estudos / discussões e os temas variam desde humor negro até questões biológicas e sócio-culturais. Uma das maiores controvérsias acontece quando comparamos homem e mulher, tanto que o conceito de gênero surgiu em função (entre outros motivos de ordem política) da subordinação e da desigualdade existente nas relações entre os sexos. Durante muito tempo as mulheres foram consideradas seres inferiores física e intelectualmente, sendo submetidas a uma condição de subserviência. Para elas eram reservados os papéis de esposas e mães, não possuíam o direito de estudar ou trabalhar, não podiam votar ou debater temas como violência e sexualidade. 

O incentivo a prática desportiva para as mulheres teve início na década de 30. Isso gerou duas correntes. Uma de incentivo, que via o esporte como meio de socialização e prática de atividade física; e outra totalmente contra, que temia quebrar paradigmas sociais e sexuais instituídos para cada sexo. Isto fez com que a participação significativa de meninas e mulheres nas competições ocorresse somente 40 anos depois (década de 70). Atualmente as atividades atléticas estão muito mais acessíveis e tem demonstrado resultados surpreendentes, levando os pesquisadores a se questionarem sobre as diferenças na capacidade física entre mulheres e homens. Os temas mais abordados têm sido com relação à composição corporal e desempenho atlético. Neste texto tentaremos esclarecer algumas dúvidas sobre a diferença entre mulheres e homens quando comparamos a qualidade física força. 

O número de mulheres que utilizam o treinamento de força como parte do seu planejamento desportivo, condicionamento físico e estética tem aumentado consideravelmente. Uma prova é a crescente utilização das academias (salas de musculação), centros de treinamentos (atletas) e uma maior popularização das provas de fisiculturismo, levantamento de peso e os concursos de fitness.

Quando ouvimos falar em força, as mulheres são sempre consideradas o sexo frágil. Nos primeiros estudos, os resultados afirmavam que os homens eram, para membros inferiors, 30% mais fortes que as mulheres e no caso dos membros superiores estes valores chegavam a 60% (Wilmore e Costill 2001). Será isto sempre verdade?

 Variáveis que influenciam na força muscular 

A força muscular depende de muitas variáveis como: tipo de contração realizada (concêntrica, excêntrica, isométrica), segmento corporal, tipo de movimento, sistema de alavancas, tipo de teste (tabela1) e proporção de massa corporal magra.

Tabela 1

Referencia

MovimentoTipo de testeMulher % do homem
Cureton et al 1988Extensão do cotovelo1RM42
Miller et al 1992Extensão do joelho1RM62
Miller et al 1992Extensão do joelhoIM52
Colliander e Tesh 1990Extensão do joelhoPTIC 60°69
Wilmore 1974Supino1Rm37


Por exemplo, a força da mulher no teste de 1RM em uma máquina extensora não chega a 50% da dos homens (Cureton et al 1988); no entanto, o pico de torque concêntrico, na mesma máquina, em 90°/s das mulheres é de 78% do torque dos homens (Colliander e Tesch 1990). Wilmore em 1974 relatou que 1RM do supino das mulheres é 37% do supino dos homens. Se o valor da carga for expresso relativamente à massa corporal magra, esse valor aumenta para 46/55%. Já a força isométrica máxima no movimento de pressão de pernas equivale a 73% dos valores masculinos, chegando a 92 /104% quando comparadas de forma relativa (massa magra).

Na verdade as qualidades inatas do músculo e seus mecanismos de controle motor são similares para as mulheres e homens, como verificou Schantz et al em 1983, através de tomografia computadorizada. Outros dados deste mesmo estudo confirmaram que os níveis absolutos de força foram maiores nos homens, porém não observaram diferenças quando a força foi expressa por unidade de área do músculo.

Outros fatores que podem influenciar no desenvolvimento da força muscular são: recrutamento e sincronização de unidades motoras (McDonagh e Davies 1994), comprimento inicial do músculo ativado, ângulo e velocidade da ação articular, armazenamento de energia e mudança no comprimento do músculo (Wilmore e Costill 2001). Não podemos esquecer que o treinamento (musculação) também influencia na quantidade de força. 

Principais Alterações promovidas pelo treinamento de força em mulheres: 

 Ganho de força (próximo ao dos homens);

 Perda de massa corporal total (ficam aparentemente mais magras);

 Perda de massa gorda;

 Perda de gordura relativa;

 Ganhos de massa magra isenta de gordura;

 Tecido ósseo e conjuntivo sofrem alterações (aumento da densidade óssea);

 Diminui o risco de lesões (esporte);

 Aumenta o metabolismo de repouso (contribuindo para o emagrecimento);

 Curiosidades 

 Segundo Wells 1978, as mulheres são tão ou até mais beneficiadas com o treinamento de força quanto o homem. 

 Treinamentos de força para mudanças na composição corporal são da mesma magnitude em homens e mulheres (Fleck & Kraemer 1999

 Em um treinamento de força idêntico as mulheres ganham força muscular na mesma velocidade ou maior do que os homens (Cureton et al 1988). 

 Em geral ambos os gêneros tem o mesmo % de fibras tipo I e II (Drinkwater, 1984). 

 Os homens em repouso têm 10x as concentrações de testosterona das mulheres (Wright, 1980). Isto pode explicar os maiores ganhos de hipertrofia muscular nos homens. 

 Masculinização 

Atualmente há uma preocupação das mulheres quanto a ficarem masculinizadas, mas não há motivos para se preocupar, uma das razões são os níveis baixos de hormônios masculinos (10x menos testosterona). No entanto essas diferenças hormonais não significam que seja impossível para a mulher ganhar massa muscular. Existem fatores de crescimento como a isoforma autócrina/parácrina do IGF-1 (tipo insulina), liberados em decorrência do treinamento de força (musculação) que atuam diretamente na região estimulada, sendo considerado por diversas pesquisas científicas como um fator essencial do processo de hipertrofia muscular. O importante é direcionar o treino para que os objetivos sejam atingidos.

 Conclusões 

Os níveis de força das mulheres, quando comparados de forma relativa, podem ser iguais ou maiores que os dos homens principalmente nos membros inferiores, porém inúmeras são as variáveis (intrínsecas e extrínsecas) que influenciam na mensuração desses valores.

O índice elevado de ganho de massa muscular é genético, e caso a hipertrofia ocorra de maneira acentuada (que é difícil) é possível de ser controlado com o treinamento. O que não pode acontecer é um treinamento com sobrecargas inferiores a recomendada (exemplo- executar 8 repetições com carga para 15), pois assim dificilmente os benefícios do treinamento serão otimizados. 

Ponto de Vista 
Gordura Marrom e UCP



 Causa da obesidade?

Ao contrário do tecido adiposo branco, o marrom é altamente vascularizado, possui alto número de mitocôndrias e tem inúmeros tecidos amielinizados que providenciam estímulos simpáticos aos adipócitos. Suas células apresentam a "mitochondrial uncoupling protein (UCP1)que dá ao seu mitocôndria a habilidade de inibir a fosforilação oxidativa, atuando diretamente na cadeia de transporte de elétrons, assim, quando o grupo fosfato é separado, a energia não é transmitida para a cadeia de transporte de elétrons, onde produziria ATP, e sim liberada como calor, que chega ao sangue e é transportado pelo corpo. Resumindo, esta enzima faz o organismo produzir calor ao invés de armazenar energia.

Ao descobrir estas propriedades da gordura marrom, muitas pessoas sugeriram maneiras de estimulá-la como: treinamentos em ambientes frios e a suplementação de substâncias especificas. Porém, devemos ter em mente que esse tecido corresponde somente a cerca de 5-10% do tecido adiposo de adultos, sendo localizado principalmente em volta do pescoço, ombros, espinha, órgãos importantes e vasos sangüíneos. Em humanos a gordura marrom é mais significativa em recém nascidos, onde chega a ser responsável por 5% do peso total, diminuindo com o passar do tempo até virtualmente desaparecer. Esta gordura é importante para filhotes em geral e animais que vivem no frio e/ ou que hibernam, justamente pela sua habilidade de produzir energia térmica. 

 UCP (mitochondrial uncoupling protein)

Apesar de ser improvável que distúrbios na gordura marrom sejam relacionados ao ganho de peso em humanos, algumas variantes da UCP já foram identificadas. Pesquisadores da Millenium Pharmaceuticals (GIMENO et al, 1997) e da UC Medical Center, Duke University Medical e Center French Centre National de la Recherche Scientifique ( et al anunciaram, em momentos diferentes, a descoberta de um gene que pode explicar porque algumas pessoas podem ingerir mais calorias que as outras e ainda assim emagrecer, enquanto as outras engordam. O gene identificado denomina-se dubbed uncoupling protein 2 ou UCP2 (denominado UCPH pelo grupo de GIMENO), e ao contrário da UCP1, encontra-se em vários tecidos humanos incluindo gordura branca, por isso a UCP2 possui um papel muito mais importante na obesidade. Foi verificado que as pessoas que possuem mais dessa proteína produzem mais calor, queimando mais calorias, esse gene também pode ser responsável pela produção de calor em estados febris e em locais específicos no caso de inflamações.

Esta proteína, juntamente com a leptina, parecem ter papel importantíssimo na obesidade, uma vez que a leptina regula o apetite e o próprio metabolismo.

Ponto de Vista 
Limiar Anaeróbio: Visão Geral

                   


O teste ergométrico convencional tem passado por uma evolução significativa nos últimos anos. Nas academias e clubes, atualmente, podemos verificar uma grande modernização em relação aos métodos e equipamentos utilizados para avaliação física, aonde podemos citar a informatização, que já vinha sendo praticada na composição corporal, estendeu-se para avaliação postural (com imagens digitais), os testes ergométricos/ergoespirométricos, que controlam as variáveis envolvidas através de aparelhos de última geração. Esta evolução ocorreu pelo desenvolvimento e barateamento do equipamento utilizado, que antes só eram encontrados em grandes laboratórios de universidades. Com isto, o que antes era utilizado para a avaliação de atletas de alta performance, hoje pode ser encontrado em várias academias e clubes no Brasil.

Para entendermos melhor o que vem a ser o Limiar Anaeróbio, mais precisamente o Limiar Anaeróbio Ventilatório, devemos rever alguns conceitos:

 Consumo máximo de Oxigênio (VO2máx)

É a quantidade máxima de oxigênio que o organismo consegue captar e utilizar do ar que está inspirando para gerar trabalho. VO2 é a medida deste consumo de oxigênio pelo organismo em determinada intensidade do exercício. Estes índices podem ser expressos em: l/min (litros por minuto), que pode ser chamado de valor absoluto ou ml/kg/min (litros por quilograma de peso por minuto), que pode ser chamado de valor relativo (Adams, 1994).

O VO2máx é um ótimo índice fisiológico para classificação e triagem do nível de aptidão cardiorrespiratória, para ser usado em comparações com dados estatísticos. É limitado por alguns fatores como genética, massa muscular, aptidão física e condicionamento físico. Pode ser melhorado com o treinamento, mas o seu ganho pode chegar a aproximadamente 30% em indivíduos destreinados, e este ganho percentual é bem menor em indivíduos treinados.

Mesmo não podendo aumentar o VO2máx., é possível melhorar a performance de um indivíduo, pois o Limiar Anaeróbio se mostra mais adequado para aplicação de cargas de treinamento.

 Limiar Anaeróbio (LA)

É a intensidade de exercício onde o nível de lactato sangüíneo apresenta um ponto de quebra de linearidade, e vem a se acumular de forma mais intensa do que vinha apresentando em intensidades de exercício mais leves.

Em qualquer intensidade de exercício existe produção de lactato, porém em intensidades abaixo do limiar esse lactato não se acumula, pois a velocidade de remoção é igual à velocidade de produção. O lactato só irá se acumular quando a velocidade de remoção for inferior a de produção.

O LA pode ser expresso em VO2 (ml/kg/min), carga (km/h, mph, watts, kp, outros), freqüência cardíaca (bpm) e percentual do VO2máx.

 Fisiologia do Limiar Anaeróbio e o Teste Ergoespirométrico

O LA é baseado no comportamento que as concentrações de lactato sangüíneo apresentam em diferentes intensidades de esforço. O início da acidose metabólica durante o exercício pode ser determinado de forma não invasiva pela avaliação dos gases expirados durante o teste de esforço, mais especificamente a ventilação pulmonar (VE) e a produção de dióxido de carbono (VCO2). Teoricamente, a permuta gasosa no LA significa o máximo do ritmo de trabalho ou do consumo de oxigênio no qual as demandas energéticas ultrapassam a capacidade circulatória de sustentar o metabolismo aeróbio. A fisiologia subjacente ao LA pode ser atribuída, pelo menos em parte ao tamponamento do lactato, de forma que o dióxido de carbono seja liberado em excesso daquele produzido pelo metabolismo celular, o que proporciona um estímulo adicional para a ventilação.

Conseqüentemente, os valores para VE e para a VCO2 aumentam desproporcionalmente com a intensidade do exercício realizado, sugerindo um aumento brusco no lactato sangüíneo. Esse método correlaciona-se muito bem com o método do lactato em amostras repetidas de sangue. Um aumento no equivalente ventilatório para oxigênio (VE/VO2) durante o exercício, sem uma mudança correspondente no equivalente ventilatório para dióxido de carbono (VE/VCO2), foi relatado também como sendo sensível e confiável para determinar o LA.

 Utilização Prática do Limiar Anaeróbio

O Limiar Anaeróbio indica até que ponto o sistema oxidativo está sendo suficiente para gerar energia para a atividade física e em que ponto as fontes energéticas anaeróbias começam a entrar em ação de maneira mais expressiva. Sempre que as Fontes Anaeróbias entram em ação por mais de 10 segundos temos formação de lactato de maneira acentuada

Com os valores do LA em mãos, poderemos: saber até qual carga, FC ou VO2, o metabolismo energético de uma pessoa está utilizando energia de fontes aeróbias, e a partir de qual carga, FC ou VO2 o metabolismo passa a utilizar predominantemente energia de fontes anaeróbias e como conseqüência está acumulando lactato (freqüentemente relacionado à fadiga muscular).

Estas são algumas aplicações práticas:

 Aplicar o treinamento sabendo se está abaixo, sobre ou acima do limiar anaeróbio;

 Qual ritmo de treino está exigindo mais do metabolismo aeróbio;

 Qual ritmo de treino está exigindo mais do metabolismo anaeróbio;

 Se está ou não acumulando lactato;

 Se vai ou não ter problemas de fadiga relacionada ao lactato durante uma atividade (prova);

 Qual a intensidade de aquecimento adequada;

 Qual a intensidade de recuperação adequada;

 Estimativa de tempo para a conclusão da prova;

 Velocidade média da prova;

 Traçar a estratégia da prova;

 O próprio atleta/aluno saberá se monitorar e dosar o seu próprio ritmo, e o mais importante por que está fazendo aquilo. 

 Ponto de vista
Menstruação e Desempenho Físico


A menstruação sempre foi um tabu para a ciência do esporte, treinadores e atletas. Há poucas décadas, era preocupante o fato da mulher participar de competições ou treinar menstruada. Somente a partir de 1950, com a melhora na qualidade dos produtos de higiene femininos (absorventes), esse quadro mudou. Embora existam muitas pesquisas relatando como o exercício afeta a menstruação, são menos conhecidos os que analisam como a menstruação e as outras fases do ciclo menstrual interferem na performance e quais as alterações que podem comprometer o potencial físico e psicológico, não esquecendo que elas são altamente individuais. Durante o ciclo menstrual ocorrem mudanças hormonais, a menos que a mulher esteja em contracepção, e isso tem efeitos definidos no desempenho físico (JUDY DALY E WENDY EY 1996).

O ciclo menstrual é dividido em fases. Segundo BÕCKLER (apud Weineck, 2000) um ciclo de 28 dias é dividido da seguinte maneira: Fase da menstruação ou fluxo (1º ao 4º dia). Fase pós-menstrual (5º ao 11ºdia). Fase intermenstrual (12º ao 22º dia). Fase pré-menstrual (23º ao 28º dia). Ele afirma que a performance pode variar de acordo com as fases do ciclo menstrual. Na Fase Pré-Menstrual, devido à influência de um aumento nos níveis de progesterona, o desempenho pode sofrer uma redução. Já na Fase Pós-Menstrual, graças à crescente taxa de estrogênio e maior secreção de noradrenalina, observa-se uma melhora significativa na performance.

No período pré-menstrual há redução na capacidade de concentração e fadiga muscular e nervosa mais rápida (KEUL et al 1974). Assim como acontece com as fundistas o rendimento no treinamento de força é diferente nas diversas fases do ciclo menstrual. Na fase estrogênica (pós-menstrual) o rendimento é melhor que na progestogênica (pré-menstrual) na qual, as atletas ficam irritadas e menos pacientes com os treinos (LEBRUN, 1995).

Em 1997 a Federação Internacional de Handebol registrou mais de 2,2 milhões de atletas do sexo feminino em mais de 100 paises. Em contraste com esse número, existe pouca literatura sobre os aspectos anatômicos, psicológicos e principalmente hormonais que afetam o desempenho das praticantes dessa modalidade. Esse fato chamou a atenção do Dr PETRA PLATEN membro do Institute Of Cardiologiy And Sport Medicine, da German Sport Universite. Ele fez um estudo analisando o desempenho no treino, através de testes específicos, nas diferentes fases do ciclo menstrual. Os resultados preliminares desse estudo indicaram que as atletas têm uma adaptação mais alta de força e resistência na fase pós-menstrual.

LEBRUM (1993), publicou uma revisão da literatura analisando os efeitos das fases do ciclo menstrual no desempenho atlético. A maioria dos achados relatou uma melhora na performance na fase pós-menstrual, com o inverso acontecendo na fase pré-menstrual. Porém verificou-se uma inconsistência nas pesquisas principalmente nas metodologias empregadas e na falta de concretização na determinação das diferentes fases do ciclo menstrual. Uma das pesquisas consistia numa entrevista com atletas, no qual 37 a 67% relataram que não percebiam nenhuma mudança significativa na performance em quaisquer fases do ciclo menstrual.

Um estudo interessante publicado por JANSE et al (2001) analisou se havia mudanças nas características contráteis do músculo esquelético, medidas através de eletromiografia, durante as fases pré e pós-menstrual. De acordo com os resultados, não foram encontradas diferenças significativas em nenhuma função do músculo esquelético nas diferentes fases do ciclo.

DIBRIZZO et al (1991) mediram a força isocinética em mulheres que menstruam normalmente, nas diferentes fases do ciclo menstrual. Os resultados demonstraram que não houve diferença significativa nos níveis de força em nenhuma das situações analisadas.

Registros de medalhas de ouro e recordes olímpicos afirmam que estas conquistas ocorreram em todas as fases do ciclo menstrual, porém não se deve esperar que o desempenho seja sempre o mesmo, pois fatores hormonais e mesmo psicológicos afetam a performance.

Os principais prejuízos ocorrem na fase pré-menstrual (LEBRUN, 1993; DALY e EY, 1993; KEUL 1974). Muitos treinadores, na hora de montar o planejamento, levam em consideração as flutuações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual e tentam adaptar o treinamento a essas mudanças. ZAKHAROV e GOMES (1992) descrevem a utilização de um mesociclo de treinamento, para atletas de esportes cíclicos, que leva em conta as variações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual (tabela1).

DURAÇÃO DO CICLO

Etapa do ciclo21-2224-2627-2829-3032-36Carga
Menstrual1-41-41-51-51-5Média
Pós-menstrual5-95-116-126-136-16Alta
Ovulatório10-1212-1413-1514-1617-19Média
Pós-ovulatório13-1815-2216-2417-2620-31Alta
Pré-menstrual19-2223-2625-2827-3032-36Baixa

 Conclusão:

A maioria dos estudos relata uma melhor performance na fase pós-menstrual, e uma redução acontecendo na fase pré-menstrual, não esquecendo que as funções fisiológicas e a especialização desportiva são altamente individuais. Os treinadores que conhecem e aceitam essa hipótese, planejam os treinos respeitando as mudanças que ocorrem durante o ciclo menstrual. A literatura relata abordagens que enfocam a dificuldade na estruturação da preparação física desportiva da mulher. Porém, várias pesquisas já fundamentadas, podem ajudar a planejar treinos de forma a controlar inúmeras variáveis, levando em consideração as flutuações hormonais, tais como: volume, intensidade, grau de dificuldade, tipo de combustível, estresse neural/ psicológico / metabólico, entre outras. A determinação das mudanças e em que fase do ciclo isso acontece, são de grande valia para a classe desportiva, no qual os treinadores adaptariam os treinos de forma a minimizar os prejuízos e maximizar os ganhos durante o planejamento. Podendo até agendar as competições para que coincidam com o período de melhor performance.

O principal problema, no caso da preparação física das mulheres, é que a maior parte do planejamento é feita idêntica a dos homens. Muitos técnicos não consideram as mudanças que ocorrem durante o ciclo menstrual. Talvez porque as competições ocorram durante todas as fases do ciclo. Porém, tal justificativa não é mais aceita diante das exigências da preparação física atual das grandes atletas, no qual seus treinadores propõem uma periodização totalmente adaptada, levando em conta de forma integral todas as variáveis que influenciam na performance, incluindo claro: O ciclo menstrual.

Ponto de Vista 
Miostatina

 

A miostatina é um gene que regula negativamente o crescimento muscular, ou seja, ela limita o tamanho do músculo, tanto pela atenuação da hipertrofia quanto da hiperplasia. Ainda não se sabe ao certo como a miostatina atua, podendo ser pela indução da morte das células, inibição da proliferação de células satélites e/ou diretamente no metabolismo protéico.

 Estudos em animais

 Estudos em humanos

Um estudo feito em Estocolmo, na Suécia, mediu a quantidade de miostatina em um grupo de homens saudáveis e dois de HIV positivos (um com perda de peso menor que 10% e o outro com redução ponderal maior que 10% nos últimos 6 meses). De acordo com os resultados há uma correlação negativa entre a miostatina e quantidade de massa magra, tanto em indivíduos saudáveis quanto HIV positivos, dando suporte à teoria de que a miostatina seja inibidora do desenvolvimento muscular (GONZALEZ-CADAVID et al, 1998). Outros estudos também verificaram maiores atividades da miostatina em estados catabólicos induzidos por períodos prolongados de imobilização, como estados de leito (ZACHWIEJA et al, 1999; REARDON et al, 2001). Mais recentemente também foi verificada uma maior atividade de miostatina em idosos, atribuindo um possível papel deste gene na sarcopenia (perda de massa muscular) (MARCELL et al, 2001; SCHULTE et al, 2001).

Os maiores níveis de miostatina em portadores do vírus HIV (GONZALEZ-CADAVID et al, 1998), atrofias crônicas (ZACHWIEJA et al, 1999; REARDON et al, 2001) e idades avançadas (MARCELL et al, 2001; SCHULTE et al, 2001) fazem surgir especulações acerca das aplicações terapêuticas que a inibição da atuação da miostatina podem ter em estados catabólicos induzidos por diversas patologias.

Em 2000, IVEY et al publicaram um estudo onde procurou-se verificar os efeitos da miostatina nos resultados obtidos com o treinamento de força. O estudo envolveu um treinamento de musculação de 9 semanas, com uma metodologia similar ao drop-set, tendo 4 grupos: homens jovens, homens idosos, mulheres jovens e mulheres idosas. De acordo com os resultados os diferentes fenótipos de miostatina não influenciaram na resposta hipertrófica ao treinamento de força quando os resultados de todos os 4 grupos eram analisados em conjunto, porém houve uma tendência para maiores ganhos de massa muscular em mulheres com um determinado genótipo. Estas conclusões podem gerar dúvidas quanto à influencia da miostatina na resposta normal ao treinamento de força.

A descoberta deste gene trouxe reações em diversos segmentos: os profissionais da saúde procuraram uma maneira de reverter o catabolismo gerado por estados patológicos e pelo envelhecimento; os pecuaristas visualizaram uma forma de aumentar seus ganhos, produzindo animais maiores, e alguns segmentos do esporte procuraram uma maneira de obter melhores resultados desportivos e estéticos.

Como era de se esperar, muitas indústrias de suplementos alimentares se prontificaram a lançar no mercado substâncias que prometem atenuar os efeitos da miostatina e, desta forma, romper as barreiras genéticas do ganho de massa muscular, porém creio que isto seja improvável de acontecer, pois dificilmente um destes produtos produzirá a mágica de inibir a atuação deste gene e se isso ocorrer, os resultados podem não ser muito agradáveis, pois não podemos esquecer que todos os movimentos de nosso corpo são controlados por músculos, incluindo os da fase e outros locais que não costumamos lembrar quando pensamos em hipertrofia. Uma inibição generalizada da miostatina poderia provocar desenvolvimento incontrolado de todos eles, gerando um aspecto nada agradável.

Outro ponto que gerará questionamentos é a distante, porém real, possibilidade da miostatina passar a ser manipulada em humanos mesmo antes do nascimento, originando uma linhagem de "super-seres". Isto traz à tona a questão ética da engenharia genética: até que ponto a ciência pode interferir no desenvolvimento de um indivíduo?

Ponto de Vista 
Novos neurônios


Sabemos que a prática regular de atividades físicas leva ao melhor funcionamento do organismo, produzindo músculos mais fortes, ossos mais resistentes, coração mais eficiente... enfim, um corpo mais saudável. Apesar de ainda haver um longo caminho pela frente, já existem muitas pesquisas nestas áreas (ortopedia, reumatologia, cardiologia...) e muitas pessoas trabalhando nos temas, mas eu creio que o futuro nos reserva surpresas em um outro campo: a neurologia.

 Nascimento de neurônios (neurogênese) 

A opinião corrente - e dogmática - é que não há nascimento de novos neurônios em humanos adultos, teoria corroborada por Pasko Rakic, da Universidade de Yale, que afirmou em artigo publicado na revista Science que a neurogênese não ocorre no cérebro de primatas (RAKIC, 1985). Desde então a estabilidade do número de neurônios é usada para explicar o processo de aprendizagem contínua e memória (RAKIC, 1985), além de justificar a inevitável degradação das funções nervosas com o avanço da idade, a qual seria causada pela morte de neurônios que não seriam mais repostos.

Mas esta teoria não é aceita por todos. Um grupo de pesquisadores liderados por Elizabeth Gould usou técnicas mais recentes e mostrou que o nascimento de novas células nervosas era sim possível em primatas adultos (GOULD et al, 1998 GOULD et al, 1999). O mais importante é que os novos neurônios foram encontrados em locais supostamente responsáveis por funções complexas, como memória, tomada de decisões e reconhecimento de formas.

O antigo dogma já vinha sendo desmantelado aos poucos, porém supunha-se que a neurogênese somente seria possível em locais menos evoluídos do cérebro. Por isso, os estudos de GOULD foram revolucionários, se referem à área mais complexa: o córtex.

Alguns cientistas, porém, não são tão otimistas. Mais recentemente, um trabalho de David Kornack, e Pasko de Rakic, encontrou resultados diversos de Gould, a dupla usou os mesmos métodos de análise que a equipe de Elizabeth e encontraram novos neurônios somente no bulbo olfativo, responsável pelo olfato, e no hipocampo, responsável pela memória de curto prazo, sem verificar a neurogênese no neocortex, afirmando que as células novas ali encontradas não eram neurônios (KORNACK & RAKIC, 2001).

Apesar da questão não ter fim definido, é inevitável inclinar-se a acreditar nos resultados de GOULD. Suas descobertas trazem esperanças para o tratamento de lesões e doenças degenerativas, como o mal de Alzheimer, além de criar expectativas para o combate de males associados ao avanço da idade. A própria fundação da antiga crença é baseada em um paradigma ultrapassado, tipicamente cartesiano, a questão era: se a memória é permanente e o córtex é responsável por ela, então o córtex deveria ser fisicamente imutável.

Os resultados controversos destes estudos geraram e ainda vão gerar muitas brigas e choques de egos, com ambos os grupos fortemente agarrados às suas idéias. Porém, longe da luta, há muitos pontos que podem nos interessar.

 Nossa maneira de encarar a realidade 

Estas novas células participam de funções cerebrais importantes e sua perda e nascimento parecem ser relacionados aos desafios cognitivos enfrentados (KEMPERMANN et al, 1997; SHORS et al, 2001; GOULD et al, 2000). Não podemos, portanto, ser deterministas, nem rotular pessoas por sua maior ou menor capacidade para determinada tarefa. Muito menos desprezar os idosos, como se estivessem fadados a uma inevitável e irreversível perda das funções nervosas. 

Todos podem se desenvolver se estimulados adequadamente! Mais do que nunca, afirma-se que somos produtos de nossa interação com o meio, nosso desenvolvimento depende tanto das oportunidades que nos são dadas quanto de nossa maneira de encarar estas oportunidades, a qualquer tempo e em qualquer idade.

A cada fração de segundo, o mundo nos oferece milhões de desafios, a escolha é nossa: se vamos usar nossas cabeças e analisar criticamente o meio (e possivelmente ter mais neurônios) ou ligar a televisão e "relaxar".

 O papel do estresse 

Em um estudo de GOULD fez-se um teste denominado "Paradigma do residente-intruso", onde um macaco macho adulto, criado em cela individual, é colocado na cela de outro adulto, resultando em encontro agressivo e posição de subordinação do "intruso" em relação ao "residente". Foi verificado que após uma única sessão de 1 hora deste (cruel) teste o número de células proliferadoras nestes animais caía significativamente em relação a animais não estressados. Ou seja, situações de estresse influenciam negativamente no nascimento de novos neurônios (GOULD et al, 1998). 

O papel negativo do estresse foi confirmado por diversos outros estudos, como o de TANAPAT et al (2001), onde ratos eram expostos ao odor de fezes de raposa. Uma revisão de GOULD & TANAPAT (1999) atribui o efeito do estresse às alterações bioquímicas específicas, como a elevação da adrenalina e dos corticosteróides.

 Atividade física e novos neurônios 

Com as descobertas feitas em Princeton, é tentador achar que podemos combater lesões e degenerações do sistema nervoso com as atividades físicas. Além de todos os benefícios conhecidos, comprovaria-se mais um: a saúde neurológica. Nesta linha destaca-se o estudo recente do grupo de JOSÉ LUIZ TREVO, onde foi verificado que o exercício em ratos estimula a absorção pelo cérebro do fator de crescimento IGF-1, que teria efeito neurotrófico.

Mas deve-se ter cuidado e responsabilidade ao entrar em um programa de atividades físicas com este objetivo. Lembre-se que o estresse é antagonista da neurogênese e que a atividades física tem tanto seu lado estressante, quanto estimulante. 

Um programa com potencial de promover o bom funcionamento neurológico deve ser responsavelmente equilibrado para que as alterações bioquímicas sejam as mais favoráveis possíveis.

 Conclusões

Ocorrendo ou não a gênese de novos neurônios em seres humanos, ficam três importantes dicas para se ter uma boa saúde do sistema nervoso:
- Pense!
- Reduza o estresse!
- Exercite-se!

Ponto de Vista
Segurança cardiovascular e hipertensão arterial




 

 Introdução

A hipertensão, definida como pressão sistólica maior ou igual a 140 mmhg e diastólica maior ou igual a 90 mmhg, é uma condição mórbida presente em grande parte da população, relacionada à cerca de 40% dos óbitos no país. No Brasil estima-se que entre vinte a trinta milhões de pessoas sejam hipertensas entre crianças e adultos (FARINATTI, 2002).

Além da nem sempre indispensável intervenção medicamentosa, a mudança nos hábitos de vida é notoriamente uma prática favorável no sentido de se melhorar a qualidade de vida de indivíduos hipertensos. Esta mudança passa entre outras coisas por uma melhora nos hábitos alimentares e na prática regular de atividades físicas.

O AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE (2000) coloca que a prescrição de atividades físicas deve primar por aquelas que visem à melhora da condição aeróbia e de força muscular. Indivíduos hipertensos, porém, necessitam de uma análise que leve em consideração as especificidades de sua patologia, no que diz respeito ao sucesso do procedimento e da segurança oferecida a este organismo. 

 Duplo-produto 

A análise dos sinais vitais durante a atividade física usa normalmente como parâmetro qualitativo e de segurança cardiovascular, a freqüência cardíaca e a pressão arterial, de forma isolada ou conjunta, dos indivíduos submetidos ao procedimento. Entretanto para indivíduos hipertensos (assim como para outras faixas populacionais como idosos, diabéticos, obesos, ou mesmo indivíduos normotensos), se faz necessário a análise de um terceiro fator: o duplo-produto (DP).

O DP é definido como produto entre freqüência cardíaca e pressão arterial sistólica (FC X PAS) (FARINATTI & LEITE, 2003). O DP tem forte correlação com o consumo de oxigênio do miocárdio apresentando-se como o melhor preditor indireto do esforço cardiovascular devendo ser usado como parâmetro de segurança do sistema cardiovascular (FARINATTI E ASSIS; 2000).

 Segurança cardiovascular

Aparentemente a sobrecarga imposta ao miocárdio tende a depender mais do tempo do exercício do que da carga em si. Assim sendo, exercícios contra resistência envolvendo cargas altas e poucas repetições, implicaria em menor trabalho cardíaco do que exercícios envolvendo cargas menores com maior número de repetições, como exercícios aeróbios. Estudo conduzido por FARINATTI & ASSIS em 2000 comparou o DP encontrado frente a diferentes solicitações (1 RM; 6RM; 20RM; exercício aeróbio de 5 min; 10min; 15min; e 20 min), e concluiu que, segundo a análise do DP, exercícios dinâmicos contra resistência parecem acarretar menores solicitações cardíacas que exercícios aeróbios, e que o número de repetições parece ter influência maior do que a carga absoluta mobilizada. Já para o exercício aeróbio a intensidade parece ser o fator mais influente.

Os mesmos autores chegam a notar que exercícios aeróbios obtiveram a partir do décimo minuto, valores de DP que poderiam ter desencadeado em pacientes com angina pectoris, sensação de desconforto por dores no peito, com risco de intercorrência cardíaca, e tal fato não ocorreu nos exercícios contra resistência.

Exercícios resistidos diversos também acarretam diferentes respostas cardiovasculares. Estudo conduzido por FARINATTI & LEITE (2003) comparando a FC, PAS e DP frente a diferentes exercícios de força, obteve uma elevação significantemente maior para a extensão de pernas (realizada em cadeira extensora), que para exercícios envolvendo a musculatura posterior da coxa e exercícios de membros superiores.

De forma aguda, ocorre um efeito hipotensivo pós-exercício que pode perdurar de alguns minutos até algumas horas subseqüentemente ao término do exercício. Dados indicam que um menor número de repetições, mesmo com cargas relativamente altas, (6 RM), acarreta diminuição na PAS pós-exercício, mantendo este efeito por um tempo prolongado. Já para a pressão arterial diastólica (PAD), um número maior de repetições, com cargas menos intensas (12 repetições com 50% de 6RM), gera maior diminuição pós-esforço. Estes dados, entretanto, não são consenso dentro da literatura (POLITO; SIMÃO; SENNA & FARINATTI; 2003).

 Atividades de Vida Diárias (AVDs)
 

Não existe aqui a intenção de condenar os exercícios aeróbios, visto que os mecanismos exatos da redução da PA e a dose-resposta da atividade física não são completamente esclarecidos. É fato que os exercícios aeróbios podem em médio e longo prazo reduzir a pressão, tanto sistólica quanto diastólica, em uma média de 10 mmhg. Entretanto deve-se levar em consideração que a redução de níveis pressóricos não depende necessariamente de treinamento aeróbio de intensidade alta, e que exercícios de força estão mais associados com as necessidades cotidianas das pessoas (FARINATTI 2002).

 

Subir um ou dois lances de escada, carregar uma sacola de compras, levantar o próprio peso corporal entre outras atividades, requerem certa capacidade de força, e são muito mais rotineiras do que, por exemplo, ter necessariamente que andar por trinta minutos seguidos. São mais comuns no dia-a-dia das pessoas atividades onde são utilizados níveis consideráveis de força do que aquelas predominantemente contínuas.

 Conclusão

 

Mesmo para sujeitos normotensos, o controle e/ou a redução de níveis pressóricos, é um importante fator para minimizar o risco de doença cardíaca (POLITO; SIMÃO; SENNA & FARINATTI; 2003).

O controle da atividade física direcionada ao hipertenso deve levar em consideração diversos fatores de forma aguda e crônica, e estar realmente associada com a vida rotineira destes indivíduos.

O treinamento físico deve, entre outras coisas, preparar as pessoas para viverem de forma melhor e mais hábil.

Os exercícios de força além de potencializarem a conquista deste objetivo, têm grande segurança cardiovascular para indivíduos hipertensos, deste que bem controlados e orientados.

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